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O Blog sobre Medicina Dentária com informações sobre: Higiene, Educação, Prevenção e Tratamentos Atuais; relacionados a Saúde Oral de adultos e crianças. criado em 09/03/2010
A radiografia panorâmica é um exame útil e bastante prático para complementar o exame clínico no diagnóstico das doenças dos dentes (cáries ou doenças endodônticas) e dos ossos da face. Através desse exame, o dentista pode visualizar todos os dentes de uma só vez, inclusive os que ainda não estão erupcionados. Cáries, fraturas dentais, infecções ou outras doenças dos ossos que sustentam os dentes podem ser visualizadas e, muitas vezes, diagnosticadas. Praticamente no diagnóstico de todas as lesões dos ossos da maxila e mandíbula. Através desse exame, pesquisam-se reabsorções ósseas e radiculares, cistos, tumores, inflamações, fraturas pós-acidentes, distúrbios da articulação temporomandibular (que causam dor na região de ouvido, face, pescoço e cabeça) e sinusite. É comum solicitá-lo também como exame pré-operatório em cirurgias dos dentes e ossos.
Por Nayene Leocádia Manzutti Eid
A radiografia panorâmica é um dos exames radiográficos mais solicitados pelos profissionais da área odontológica em sua rotina clínica. Por possibilitar uma ampla visualização das estruturas do complexo maxilomandibular, da região da articulação temporomandibular (ATM) e dos seios maxilares, é útil como recurso complementar em exames odontológicos, auxiliando o cirurgião-dentista na eleição do plano de tratamento mais adequado para cada paciente. Além disso, deve-se considerar também, que uma radiografia panorâmica feita a pedido de um cirurgião-dentista pode ser útil na identificação de algumas alterações que não estão relacionadas diretamente com a odontologia e, assim, mostrar mais do que problemas de saúde bucal. Dentre esses achados, alguns, como as placas de ateroma na artéria carótida, são considerados “acidentais”; porém, quando evidenciados, é imprescindível que sejam corretamente diagnosticados.
A aterosclerose, que apresenta como lesão fundamental o ateroma ou placa ateromatosa, localiza-se preferencialmente nas artérias carótidas comum, interna e externa, e constitui-se basicamente de depósitos lipídicos que se acumulam na íntima dos vasos, sendo a causa mais comum de acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Quando calcificadas, as placas ateromatosas podem ser observadas nas laterais das radiografias panorâmicas, na região de tecido mole, na altura das vértebras C3 e C4, de 2 a 4 centímetros abaixo do ângulo da mandíbula, acima ou abaixo do osso hióide, conforme figura abaixo.
Desenho esquemático das estruturas ósseas e dentárias visualizadas em uma radiografia panorâmica (simulando paciente em posição). 1- Região de ângulo da mandíbula; 2- Osso hióide; 3- Imagem representativa de ateromas de artéria carótida; C1, C2, C3 e C4 - Vértebras cervicais.
Elas apresentam-se como imagens irregulares, heterogêneas e com menor densidade que as estruturas calcificadas ao seu redor (ver imagens abaixo). Essas calcificações devem ser distinguidas de outras de aspecto semelhante que podem se apresentar nessa área, como o sialolito da glândula submandibular, calcificação da cartilagem trictícea, calcificações no corno superior da cartilagem tireóide e calcificações na epiglote. Essa distinção pode ser confirmada pelo uso da combinação de critérios radiográficos e exame clínico.
Radiografia panorâmica apresentando (bilateralmente) imagens radiopacas de aspecto disforme compatíveis com ateroma de artéria carótida.
Vista aproximada das regiões na radiografia panorâmica, onde observam-se as imagens compatíveis com ateroma de artéria carótida (apontadas pelas setas).
Diversos fatores podem contribuir para a formação de ateromas, tais como: hipertensão arterial, diabetes mellitus, colesterol elevado, tabagismo, etilismo, obesidade, alterações hormonais (mulheres na menopausa), hereditariedade (pacientes com histórico de doenças cariovasculares na família), gênero (masculino), idade, sedentarismo e estresse. Ademais, há fortes evidências de que indivíduos que têm a saúde bucal comprometida por algum processo inflamatório ou infeccioso têm maior risco de sofrer alterações em suas condições sistêmicas. Exemplos disso são os pacientes portadores de periodontite ou doença periodontal – resultado da extensão de um processo inflamatório iniciado na gengiva para os tecidos de suporte do periodonto –, que correm um risco maior de ter problemas cardiovasculares e acidente vascular cerebral isquêmico. Outras infecções dentárias, que são infecções de baixo grau, também são propostas como fatores de risco para várias doenças ateroscleróticas, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral.
Apesar de a radiografia panorâmica identificar a presença das calcificações sugestivas de ateromas que podem desencadear um AVC, ela não possibilita avaliar o grau de obstrução e a correta localização do ateroma, fazendo-se necessário o uso de outros recursos para se obter um diagnóstico definitivo. Para suprir essa limitação da radiografia panorâmica, podem-se solicitar outros tipos de exames, tais como: telerradiografia lateral cefalométrica, ultrassonografia de doppler, contrastes angiográficos e tomografia computadorizada. Desses, a ultrassonografia de doppler é a mais indicada para confirmação da presença, localização e tamanho dos ateromas na artéria carótida, por se tratar de um exame de baixo custo, se comparado com os contrastes angiográficos e com a tomografia computadorizada.
A presença de ateromas na artéria carótida em indivíduos clinicamente assintomáticos é, frequentemente, associado com o desenvolvimento tardio do AVC evidente clinicamente, doença da artéria coronária (angina e infarto do miocárdio) e morte. Desse modo, tem-se difundido a importância da detecção precoce dos sinais relacionados a essa entidade por meio de exames de imagem de rotina, tais como as radiografias panorâmicas, e sendo assim, o cirurgião-dentista assume relevante importância no diagnóstico inicial desse tipo de paciente, uma vez que a detecção precoce e o subsequente encaminhamento do paciente ao médico especialista para realização de tratamento apropriado irão contribuir na redução da incidência de AVCs.
Nayene Leocádia Manzutti Eid é cirurgiã-dentista, especialista em radiologia odontológica e professora de radiologia oral da Faculdade de Odontologia do Centro Universitário UNIRG.
Fonte: http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=47&id=586