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O Blog sobre Medicina Dentária com informações sobre: Higiene, Educação, Prevenção e Tratamentos Atuais; relacionados a Saúde Oral de adultos e crianças. criado em 09/03/2010
Materiais de característica muito estética, como as resinas compostas e as cerâmicas, são muito valorizados. Este fato, sem dúvida, condiz com a necessidade dos tempos de hoje, mas é importante reconhecer que as características biológicas do cimento ionômero de vidro são também fundamentais.
O CIV teve seu auge nos anos 80, quando surgiu como um material restaurador revolucionário: adesivo e capaz de reduzir significativamente o risco de cárie secundária. Passada esta euforia inicial os clínicos começaram a se render novamente aos atrativos da resina e abandonaram os ionoméricos, sob a argumentação que este material deixava a desejar em três aspectos importantes: estética, resistência e praticidade na técnica de uso.
Atualmente contra-indicamos a aplicação do CIV para restaurações do tipo classe II e V, já que nestes casos a estética é primordial. Entretanto, ocorrem situações clínicas em que a liberação de flúor (para auxiliar na remineralização e diminuir a solubilidade de esmalte e dentina) e a ação antimicrobiana (para reduzir o risco de sensibilidade pós-operatória e também inibir cárie secundária ou recorrente) são propriedades importantes. Neste aspecto é que o CIV ganha relevância e pode ser aplicado em diversas situações, que podemos exemplificar:
1 - Forrador cavitário: Muito embora, atualmente, seja muito preconizada a técnica do ataque ácido total (hibridização), dispensando-se o uso de forradores, podem ocorrer momentos em que a proteção da parede de fundo pode ser considerado um procedimento de segurança. São as situações decorrentes de processo agudo de cárie penetrante, onde a dentina apresenta-se muito permeável. Nestes casos a colocação de uma base ionomérica permite uma ação biológica, sem comprometer a adesão, oferecendo mais vantagens que o cimento de hidróxido de cálcio, que deve ser indicado somente em cavidades com suspeita de micro-exposição pulpar.
2 - Selamento temporário de cavidades: Tanto na técnica do ART (que é utilizada em órgãos públicos) como na adequação do meio bucal (mais usada em clínica particular), o CIV é o material de primeira escolha, superando os tradicionais cimentos a base de óxido de zinco e eugenol, que são bons seladores, mas não liberam fluoretos.
3 - Selamento de fóssulas e fissuras: Muito embora os estudos indiquem um alto índice de deslocamento do CIV, quando utilizado para este fim, está provado que o simples fato dele permanecer por algum tempo na superfície oclusal, já é suficiente para tornar a região bem menos susceptível ao acometimento de cárie, já que resíduos ionoméricos, não-visíveis clinicamente, permanecem por tempo indeterminado no interior das fissuras, protegendo contra a instalação de cárie, diferentemente dos selantes tradicionais, que são mais resistentes ao deslocamento, mas quando este ocorre, o risco de cárie retorna praticamente aos níveis iniciais.
4 - Redução da hipersensibilidade cervical: A aplicação do CIV em uma área abrasionada ou decorrente de abfração pode reduzir bastante a hipersensibilidade, mesmo que o deslocamento venha a ocorrer a médio prazo. Neste caso, o CIV teria muito mais uma função terapêutica do que propriamente restauradora, e poderia ser reaplicado periodicamente até que a hipersensibilidade fosse eliminada, e então permitida uma restauração classe V de resina composta.
5 - Cimentação de próteses: Pacientes muito susceptíveis a cárie secundária na área radicular (como os idosos) devem ter suas restaurações cimentadas com um material de característica biológica, como o CIV, mas é importante esclarecer que os princípios de retenção friccional e, principalmente, de estabilidade devem ser respeitados, já que a característica adesiva do CIV não é suficiente para reter uma prótese.
Outras aplicações como cimentação de bandas, preenchimento de cavidades tipo túnel e uso geral em odontopediatria, são indicadas para o uso do CIV. Entretanto, como podemos concluir este material praticamente não é mais utilizado como um restaurador, no sentido pleno da palavra, e sim como um auxiliar importante, e com muita versatilidade.
Ao adquirir um produto, deve-se valorizar um produto que apresente facilidade de manipulação e presa mais rápida (de modo a agilizar o procedimento). É importante ressaltar que um ionomérico classificado como “restaurador” pode ser aplicado para todas as indicações relatadas acima, e apenas para cimentação devemos utilizar um específico para este fim.
Os híbridos resina/ionômero apresentam praticidade quanto ao uso e melhor estética, mas são mais caros e não contemplam a relação custo/benefício. Por este motivo não são essenciais, muito embora sejam a melhor opção para a utilização como forradores da resina composta
Ricardo Carvalhaes Fraga
Professor Adjunto-Doutor de Clínica Integrada – UFF